quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Quando um gato conhece o luxo e a fartura,
nunca mais volta à devassidão"
D. Marcolino

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Limites

Repare como eu a provoco.
Seu olhar tenta a auto-resignação.
Então ela morde de leve, para pedir respeito, para impor limites.
Não há nada subliminar.
É um "eu não gosto, pare por favor".
Tão simples!

Ela deita, para tentar levar na brincadeira.
Mas eu continuo a provocar seu humor felino.

Até que ela surta!


"Não surte.
Apenas imponha limites quando necessário!"

Se treinar, vai ver que não é tão difícil assim.
Ou é?


"Não enche! Me solta!"


domingo, 24 de maio de 2009

Gato bandido!

No início, há dois anos, quando me mudei para esta pequena cidade, pensei que a presença dele era mau agouro, pressentimento ruim. Vira e mexe, quase todos os dias, no meu portão, estava o pequeno mirrado gato preto a brincar com minha gata. Brincavam de diversas maneiras. Os dois pela rua. Ela do lado de dentro, ele do lado de fora. Brincavam, e às vezes brigavam. Sempre no meu portão!

(o portão)


Gritos felinos me tiravam a concentração. Com o tempo - e bota tempo nisso! - comecei a ouvir mastigadas diferentes na minha cozinha. Pois conheço cada barulho do meu animal de estimação: a velocidade com que mastiga, a maneira com que puxa a água com a língua, o mínimo estardalhaço que faz para pular o portão, a língua que lambe o pelo, o miado de manha, de fome, de aviso de perigo.

Ele, o gatinho mirrado preto, de maneira sofrida mastiga rapidamente a ração dela (dentro da minha cozinha!), desesperadamente engole a água limpa, e foge escorregando pela parede. Ele rouba! Ele rouba, o ladrão de ração.

Dias atrás, meu amor felino estava triste. De uma tristeza sem cura, melancólica. Era por causa dele, o filhodeumaéguaabandonada, que sumiu. Ficou umas duas semanas sumido, enquanto ela desfilou miados e chorou (em meu colo, edredon, sofá, rede e travesseiro) por ele. Mas como todo filhodeumaéguaabandonada faz, ele reapareceu.

Reconheci pelas mastigadas descontroladas. Aquele fedido!
Ao voltar, ela viu que ele estava vivo.
Ao sumir de novo, ela nem ligou!
- Aprendeu, amor meu?
A ração dele deixo lá fora, ao lado da água.
Porque a compaixão faz parte de mim.
Ração barata. Ração de gato-inseto!

Aqui, há quase um ano, em uma esquina, de madrugada.
Eu voltando de uma balada de madalena, arrependida.
Fiz questão de parar e fotografar o maledito.





A minha? Continua comigo! Aqui ao lado, exatamente.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Nada variando, dorme ela aqui ao meu lado enquanto digito. Por causa do frio, está sem banho. Sem banho, não deixo que frequente todos os ambientes da casa. Na foto, imagem antiga, quando ainda era mocinha magrinha de pelinho ralo. Usava coleira e vivia dentro de um apartamento. Hoje é grande, gorda e peluda. Vive se enchendo de carrapichos pela rua. Um horror! rs

terça-feira, 21 de abril de 2009

Mágoa velada

Depois da vacina, silêncio. Se eu chamo, ela não atende. Se eu me aproximo, ela sai de perto. Ficamos assim por três dias. Da janela vejo, atrás do pneu da bicicleta, a Gata tomando sol e sombra.


Eu fotografo, eu chamo... e nada! Passam as manhãs que não voltam. Lavo tudo, tenho mangueira no quintal. A cesta secando ao sol, expulsando o mofo... ela entra encolhida e dorme, mesmo úmida a madeira. Ignora, faz de conta que não me vê, não me ouve, não sabe de mim. Mágoa.



Depois de três dias assim, ela pula em mim, assim macia, no domingo à noite, Fantástico!, ronrona, pisca pela metade (a piscada romântica dos gatos) e faz as pazes. Em minutos adoeço, febril. Sem sair da cama, sem sair do corpo, alma presa na dor do susto que queima os órgãos, ela percebe a aflição. Fica perto, dorme todos os dias ao meu lado, fareja meu hálito, massageia minhas costas... tentando me tirar da letargia, ou talvez deixar mais confortável o sofrimento.

E então, depois de três dias de febre em mim, em uma das noites de sono impossível, ela exagera em sua preocupação, e em seu olhar vejo espelhado o meu padecimento. Lambe meu cotovelo, encosta as costas nas minhas costas, não incomoda, não faz barulho. A cada virada, sua preocupação aumentava... e a minha também! "Meu Deus, será que ela pressente a minha saída?".

Acordei me arrastando, queimando entranhas sem o auto-controle necessário para uma vida ativa, produtiva e feliz. E mesmo sem margarina, sem pão quentinho ou cafuné humano, sigo para o trabalho disciplinador.

O vento que entra pela porta gigante não comove o colega. "Vamos abrir mais essa porta". Tremo, formigam as mãos, o queixo não controla os dentes. Tictictic de frio dos infernos. "Pai, vem me buscar". Enfim, então, pois não, pedi ajuda. Pronto socorro, que de pronto nada tem.

Soro na veia, sangue na agulha, peito na chapa. Desmaio, nervoso, quase medo. A cura está demorada, a fumaça será para sempre ausente, o pulmão prejudicado agradece, o desejo pela fumaça empobrece. Mel com limão de madrugada, carinho materno nos pés e canelas de pele fina. Quase volto ao início de tudo. Porque o início de tudo foi colo materno e quase morte. Quase morte...

E a Gata? A Gata inconformada por eu ter me internado na casa alheia por dias e dias, me espera chorando na porta. Chora de manhã pedindo atenção. Chora à tarde pedindo comida. Chora implorando minhas mãos.

Conforme lentamente melhoro, lentamente ela vai voltando à sua rotina de rua ao lado de seu amigo negro gato - o ladrão de ração. Falo dele outro dia!



terça-feira, 7 de abril de 2009

Agulha nela!


Era madrugada quando ela apareceu.
Sorrateiramente, mas com certa agilidade de quem lida com o comportamento felino, cheguei rápido até a sala e fechei a janela. A Gata percebeu meu movimento estranho, mas foi pega de surpresa e não teve tempo de reagir.
Conformada, foi comer e dormir.
Voltei pra cama rapidinho e fechei a porta para não ter que acordar com ela cheia de manhas e mios a qualquer momento.
Logo cedo chega a veterinária; eu, no fim do banho, grito um 'já vou!'. A Gata já estava de prontidão no corredor, pose de quem está pronta para se movimentar a qualquer sinal de contrariedade.
Dra. A. entrou, vacinou "meu anjo", usou a xícara feliz, e se foi. Esqueci de oferecer café.
Com pressa, disse que estava vendo tudo cinza; é fase visão cinza. Por fora, super cor de rosa. Então saí, mas esqueci a janela fechada. A Gata dormiu em cima das velhas botas marrons o tempo todo.
Agora deve estar na rua, devidamente vacinada, vivendo sua vida de gato livre, mas muito bem tratado!
(Quando ela toma banho, ganha sua ração preferida em dia de sol. Outro dia dei o banho e tinha esquecido de comprar a ração apetitosa. Ela me olhou tão pedinte! Mas só tinha sol mesmo e foi isso que eu ofereci).
Na foto, entre-livros.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Vem ver a lua!




Hoje ela deveria ter tomado vacina às 7 da manhã.
Como chegou da rua de madrugada, pensei que amanheceria ao meu lado. Confiante, não a prendi dentro de casa. Quando acordei, ela já tinha sumido. Voltou agora à noite. Sexta passada estava marcado para tomar a vacina às 10h30. Sumiu também, voltou apenas no sábado pela manhã.
Hoje, seu retorno barulhento anunciava a ansiedade: miados agudos.
Pediu para que eu abrisse a porta do quintal.
Segui seus pulinhos. Ela correu toda feliz, me indicando o caminho.
Sentou, levemente virou o rosto e fixamente - por alguns segundos - olhou para cima.
Intrigada, olhei para onde ela estava olhando: a lua quase cheia.
Nuvens que pareciam de fumaça no céu.
A Gata fugiu da vacina, chegou e me chamou para ver a lua.
Amanhã espero pegá-la logo cedo e terminar com essa fuga de agulha, fato que ela pressente.






"Não, agulhadas não!"